terça-feira, 19 de julho de 2011

Nasce mais uma produção cinematográfica no Sertão

Filme Antoninha mostra que o Sertão pode fazer cinema

Em uma noite memorável, sob uma forte neblina e ao som dos aplausos de uma excelente platéia eclética de crítico cinematográfico a realizadores, curiosos e populares, o tão esperado filme Antoninha, do diretor Laércio Filho, estreou no último sábado encerrando a 2ª Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano, realizada no período de 13 a 16 de julho na Fazenda Acauã, município de Aparecida-Paraíba.
Estrelado pela atriz pernabucana radicada em Sousa, Agatha Barbosa, no papel da protagonista e com nomes de peso no cinema paraibano a exemplo de W. Solha, Marcélia Cartaxo e Nanego Lira, Antoninha promete entrar para a lista das grandes produções cinematográficas da Paraíba.
O filme foi roteirizado e dirigido pelo produtor cultural aparecidense Laércio Filho, que contou com patrocínio do Ministério da Cultura através da Lei Ruanet, do Banco do Nordeste, da Funarte e do Governo da Paraíba através da Ação Microprojeto Mais Cultura. As prefeituras dos municípios de Sousa e Aparecida, também apoiaram a produção que é assinada pela Acauã Produções Culturais e pela Pigmento Cinematográfico.
Na ficha técnica, o filme traz grandes profissionais do cinema nordestino, a começar pelo produtor executivo Heleno Bernardo, seguido pelo diretor de fotografia João Carlos Beltrão, diretor de som Gustavo Rocha, diretor de artes Carlos Mosca, edição de Lúcio César e a finalização de Ely Marques. A música que dá nome ao filme é de autoria de Cátia de França, interpretada por ela e Xangai.
As filmagens de Antoninha foram feitas em dezembro do ano passado nas fazendas Acauã e Xique-xique, município de Aparecida. Em cinco dias de intensa produção, envolveu mais de cinqüenta profissionais e contou com a participação de moradores locais nas cenas de figuração, momento da chuva, uma das mais belas cenas que encerra o filme.
Antoninha é o quinto trabalho dirigido por Laércio Filho, que iniciou a sua trajetória no audiovisual após ser selecionado na primeira edição do programa Revelando os Brasis do Ministério da Cultura em 2004, o que o levou a produzir o documentário Memória Bendita, no ano seguinte.
Depois dessa experiência, Laércio Filho que já militava no teatro, na música e na literatura, apaixonou-se pelo cinema e de lá pra cá, dirigiu o documentário “O apóstolo do Sertão” (2008) e as ficções em um minuto “As Trapalhadas de João Teimoso” (2010) e “As Trapalhadas de João Teimoso II” (2011).
Após lançamento na Fazenda Acauã, o filme Antoninha será exibido no próximo dia 30 no Centro Cultural Banco do Nordeste e depois partirá para os festivais tanto no Brasil como no exterior, mostrando os valores da cultura sertaneja na telona.
Fotos: Felipe Elias
Ascom

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A ESTREIA DE “ANTONINHA” por W. J. Solha


No dia 16 – sábado que vem – será o lançamento do primeiro curta-metragem de ficção do Laércio Ferreira, lá no sítio Acauã, município de Aparecida, alto sertão da Paraíba:


Depois de fazer um homem que é dono de todo o bairro de Setúbal, no Recife, em “O Som ao Redor” ( primeiro longa de Kléber Mendonça Filho ), e o de um bancário aposentado doente, em “Era uma vez Verônica” ( terceiro filme do Marcelo Gomes ), eis-me – pra encerrar 2010 - Coronel João Bezerra Wanderley, vivendo os dramas de um velho envolvido com a seca verde e uma adolescente que de verde não tem nada, lá pelos anos 30, no dito-cujo “Antoninha”, que acabará sendo dado à luz antes dos lançamentos pernambucanos, confirmando que na verdade os últimos serão sempre os primeiros:



Não vou entrar em detalhes sobre o enredo antes da estreia, mas acho que a Paraíba vai gostar da sutileza com que o roteirista-e-diretor Laércio Ferreira Filho criou os perfis da jovem Antoninha e do coronel, numa história que tem, por isso, uma simplicidade apenas aparente, fácil de assistir mas capaz de render longas análises psicológicas, econômicas, históricas, antropológicas, fílmicas, estéticas, etc, etc.
Não vou estar nessa apresentação do curta ( tem 18 minutos), porque, além de avesso a festas e eventos similares (por isso não lancei meu romance “Relato de Prócula”), eu – tal e qual Carlos Gomes, que não assistia às estreias de suas óperas – não quero estar lá pra discutir o que fiz ou deixei de fazer no filme. Conheço minhas limitações (confesso que fiquei surpreso com tanto convite pra atuar, no ano passado) e nunca estou satisfeito com o que faço. Vi o “Antoninha” quase-quase pronto, gostei da fotografia do João Carlos Beltrão, do desempenho de debutante Ágatha ( que faz a personagem titular), de Gina (que faz Idalina, esposa do Coronel), de Marcélia Cartaxo (que interpreta a mãe de Antoninha), Nanego (que faz o pai) e Marcus Barbosa (que faz o padre),  mas ponho ressalvas em minha participação, e nisso não vai falsa modéstia.



Quando o Heleno ( Heleno Bernardo Campelo Neto) me convocou para o elenco, eu estava na última semana do longa do Marcelo Gomes, no Recife, numa exaustão jamais sentida antes na minha vida (pois já vinha do filme de Kléber Mendonça), e me recusei a participar do trabalho. Heleno insistiu, mandou-me o roteiro, de que gostei muito, mas vi outro inconveniente na aceitação: achei que o papel deveria ir pra alguém não tão velho (acabo de completar setenta. Mas, bem: respeito demais o amigo Heleno, tiro o chapéu pro Laércio (figura importantíssima na efervescência cultural da região em que vive ), conversamos muito sobre a coisa toda, acabei engajado na obra. O Coronel poderia ser, no entanto, personagem bem mais fascinante do que aquele que consegui criar, e isso – imagino - resultaria num filme digno do roteiro e direção do Laércio, da produção do Heleno, do esforço de todo o elenco, bem como da equipe técnica.

É apelar pra que eu esteja enganado.